6 de novembro de 2008


O BEIJO – Ana Barreto


Um beijo fugitivo
Escapou da minha boca
E fez piruetas loucas
Pra na tua boca pousar.
*
Era um beijo ardente,
De gosto quente,
Um que, cautelosamente,
Eu tentei guardar.
*
Um beijo desvairado,
Desses que, se não
Tomamos cuidado,
Vem nossa paz nos roubar.
*
Um beijo mal intencionado,
Que te beijou sem cuidado,
Pegando você de soslaio,
Disposto a te recordar.
*
Dos beijos que
A minha boca quente,
Teimosa e mansamente,
Insiste em pra ti guardar...

ESSA DISTÂNCIA – Ana Barreto


Essa distancia que meu coração machuca
Não por minha ou por tua culpa
É a faca mais afiada que se põe em nosso peito
É a algoz que faz o nosso sonho desfeito
É a feitora que nos açoita ao chicote...
É um cruel malogro do destino
Uma piada de mau gosto, um desatino
É uma insanidade da Geografia
É um querer de louca agonia
É um desejo de brincar com a sorte...
Pra essa saudade meu amor, não há saída
Ela dói vil e cruelmente dolorida
O que nos resta é a cômoda aceitação
O adormecer torpe da nossa paixão
Até o dia que nos una a morte!

INCOMPLETA – Ana Barreto


Partes do que sou eu
São pedaços tão teus
Que nem me atrevo a resgatar
São fagulhas e centelhas
De emoções tão verdadeiras
Que não ouso explicar
São resquícios de emoção
Do meu louco coração
Que insistiu em te amar
São defeitos e virtudes
São as tuas atitudes
Que me ponho a recordar...

FALTA DE MIM - Ana Barreto


Faltam-me argumentos
Para extirpar meus sentimentos
Para aplacar os meus tormentos
Meus devaneios particulares
Falta-me ausência de emoção
Para explicar ao coração
O que me mostra a razão
Que eu não devo mais amar-te
Falta-me a dura frieza
Ditada pela certeza
Pela contundente clareza
De que não vais voltar
Falta-me coragem
Para acabar com a chantagem
Que esse coração selvagem
Teima em me preparar
Falta-me por fim, vaidade
Para encarar a verdade
Que a tua insensibilidade
Vive a me demonstrar...

AS HORAS DO TEMPO – Ana Barreto


As horas secretam
Caminhos sem vida
Descortinam paisagens,
Abrem feridas
Horas que os relógios
Não sabem contar
Somem e retornam
Pra me torturar
E eu busco a aceitação
Das horas que vem
Das horas que vão
E o relógio a repicar
As horas que faltam
Pra você chegar...

PERGUNTAS SEM RESPOSTAS - Ana Barreto


Por que teimamos em nos ferir
E acreditar em cenários malogrados
Se tudo o que nós queremos
É estarmos assim, enamorados?
εϊз
Por que nos fechamos ao entendimento
E despedaçamos nosso coração
Se o que governa nossos sentimentos
Foi e sempre será a emoção?
εϊз
Por que não acabamos de vez
Com essa mania de brigar
Vamos extirpar a insensatez
Que não te permite me enxergar
εϊз
Clara, límpida e transparente
Da forma que eu sou
E embora nem sempre aparente
Governada por teu amor...

DOR – Ana Barreto



Amor e saudade se misturavam

Numa inquietação sem fim

Se estava longe de você

Se você não estava em mim

Se te demoravas em algum lugar

Se não sabia aonde ias

Se não via a tua imagem

Linimento da minha agonia

Assim muito te amei

E então o tempo passou

Hoje sozinha fiquei

Na crua companhia da dor

Fechar meu coração tentei

Buscando outros caminhos

E de saudades chorei

A falta dos teus carinhos

Porém sei que tudo passa

Até mesmo essa dor

A dor de não mais sentir

A força do nosso amor...

27 de abril de 2008




SONETO DO DESPERTAR - Ana Barreto

Acortumei-me à minha lágrima
E à sua autonomia de querer se derramar
Como um sopro adentrando o coração ferido
A lágrima rebelde insiste em me delatar

E banhando-me o rosto tristonho
Essa lágrima que eu tentei conter
Denuncia o meu mundo de sonhos
As quimeras que eu tentava esconder

De tal maneira que não posso deter
Nessa vertente a lágrima escorre
Constatando a fantasia que hoje morre

A realidade se fez de desamor
Do triste pranto que reflete a agonia
Da lágrima que agora encontra companhia...

19 de março de 2008


ALQUIMIA – Ana Barreto

Que a minha pele
Meu amor, lhe revele
Tal qual o sopro sentido
Da brisa que passou
Mas que em mim deixou
A promessa de voltar...

Que você me antecipe
No pulsar do seu corpo em riste
No desassossego do seu coração
Nas flores, odores, sabores
Nos tantos e tantos amores
Que você tem pra me dar...

Que em nós todo o amor floresça
E que a felicidade em nós permaneça
Pois que em mim mora a emoção
Desde que você chegou
E pra dentro de mim se mudou
Corpo, alma e coração...

RECORDAÇÕES – Ana Barreto

Tudo em mim sussurrava as coisas
Que outrora ouvi de ti
Os gemidos calados na boca
Das tantas coisas que já vivi
Os gestos ansiados repousados
Nos secretos recantos suados
Dos nossos corpos cansados
Revoltos e lindamente enlaçados
As línguas delirantes
A tramarem batalha desleal
Meu corpo insano de sede
Implorando um vendaval
E a tua seiva que tanto eu queria
A minha carne dolente acolhia
Era essa a mais bela melodia
Que cantavas ao ver que eu dormia...
AGONIA – Ana Barreto


Deus, é tão tarde!
Quem ouve agora o meu grito de saudade?
Quem lhe falará da minha agonia
Que torturava a cada vez que você partia?

Quem lhe confidenciará os meus medos
Aos ouvidos em segredos
Quem lhe dirá dos meus receios
E dos incontáveis anseios
Que jamais lhe confessei?

Quem lhe dirá dessa espera
Dessa secreta quimera
Das coisas que calada lhe peço
Ao escrever cada verso
Que você jamais vai ver...

26 de fevereiro de 2008


INTIMIDADE – Ana Barreto


Que se avolume a dor!

Venha! Não tenho medo!

Já desvendei o teu segredo

Contado em outros poucos amores...


Venha, pois já sei do teu malogro

Sou-lhe íntima e velha conhecida

És rotineira em minha vida

Vem! Vamos jogar o mesmo jogo!


Venha dor, pois nada mais me resta

Nem alegrias, nem amores

E se um dia tu te fores

Pede à felicidade que entre pela fresta!

EIS-ME AQUI – Ana Barreto

Eis-me aqui
Entregue sem pudores
Aos mil e tantos amores
Que desfruto com você

Eis-me aqui
Supostamente tua
Vagando a ermo pela rua
Na vã busca de te ver

Eis-me aqui
Nessa doce e terna espera
Tecendo sonhos e quimeras
De tudo aquilo que não posso ter

Eis-me aqui
Uma mulher em sua essência
Que nega a contundente evidencia
Do amor que não pôde fazer...

16 de fevereiro de 2008

VEM – Ana Barreto


Vem meu amor
E abranda essa saudade
Prima-irmã da insanidade
Prenuncio de uma tempestade
De afagos e de beijos teus...
Vem meu homem
E me toma sem medida
Vem saciar a desmedida
Fome minha desse corpo teu...
Vem dizer-me que sou tua
Que me queres toda nua
Para saciar os caprichos teus...
Vem e toma o que é meu
E subjuga aos desejos teus...
Vemm meu amor... Sou tua...

14 de fevereiro de 2008


BUSCANDO VOCÊ – Ana Barreto

Corro o risco
Me arrisco
Da trava um cisco
Da dor um nada
Do abandono uma cilada
Da tristeza um momento fracionado...

Me pego
Te entrego
Não nego
Ao teu ardil e descarado desejo
À fome santa do teu beijo
O meu querer de saudade emocionado...

Braços
Laços
Todos os meus passos
Em sua direção
Buscando a comunhão
Quando só nosso amor se sente apaziguado..
.

12 de fevereiro de 2008

DENTRO DE MIM – Ana Barreto

Dentro de mim
Moram duas metades
Uma formada de sonho
Outra de realidade

Dentro de mim
Moram dois “eus”
Um “eu” que se domina
E um outro que é teu

Dentro de mim
Moram duas mulheres
Uma delas arredia
Vive o agora, rejeita fantasia

A outra mulher
É essa que faz versos
E que vive para pensar
Em mil formas de te agradar

Mistura de concretude e imaginação
Sou eu essa mulher...
A tua mulher
Te desnudando o coração.

31 de janeiro de 2008


A DOR QUE DÓI – Ana Barreto


A dor que dói não é aquela contundente
Aquela que me faz carente
De um afago,
De um beijo teu...
A dor que dói é a da faca cortante
Do silêncio repousante
Em que tu
Optaste descansar...
A dor que dói é a dor de te ver refeito
Enquanto eu vejo meu mundo desfeito
Eternamente
A te esperar...

ABENÇOADOS – Ana Barreto


Nada desfará o que temos
Esse encantamento de almas
Que do nada, sem esperar
Se reconhecem metades
E não se permitem separar.
Nada desfará a mágica fome do beijo
Nossos corpos abrasados de desejo
O calor a despeito do frio
A alegria se sobrepondo às dores
A forma como os nossos amores
Preenchem o que antes era vazio.
Declaro que te amo
E não temo o engano
Pois sondei tua alma
E o que vi foi luz
Desejo que me seduz
Entrega que me acalma.
Sou tua e tu és meu
E é no teu amor que me abrigo
E te sentindo aqui
Em mim abraçado
Sei que nada será um perigo.
ACORDO – Ana Barreto

Apenas quando o silêncio se fizer ouvir
Te deixarei entrar.
Em minha casa, em meu quarto, aqui dentro!
Quero sentir teu desejo
Desnuda-me com teu beijo
O mais louco que guardou pra mim!
Apenas quando as flores esconderem seus perfumes
Me permitirei te provar.
Invadindo teu espaço despertando teus sentidos
A tua pele, o teu gemido
O teu grito permitido
Aquele que a tua boca não consegue sufocar!
Apenas quando a minha boca esquecer o teu sabor
Me deixarei ficar
Sem os anseios que tu ousas despertar
Meu coração audaz, acelerado
Meu desejo contumaz, enamorado
Tudo que sou perto de ti!
Apenas quando a Lua não mais brilhar
E o Sol abrir mão do seu calor
Te deixarei partir
E entre desejo e saciedade
Viverei minha saudade
Dormirei com minha dor.
ADORANDO O AMOR – Ana Barreto


Meu amor não me dá as respostas
Quando as quero
E de repente me diz tudo
Quando menos eu espero
E em retribuição
Os sentidos lhe darão
O que meus sentimentos
Já lhe deram
A certeza de que o quero
Morando dentro de mim.
Nos desfrutamos, amor
E por pensamentos somos governados
E a raiz deles, sua fonte de calor
É nosso desejo acalantado,
Nosso voraz ensejo
Nossa sede de beijo
Nossa ânsia de carinho
Nossa carência de um ninho
Construído no corpo do outro.
Nos apegamos assim
Ao que o amor dá a você
Ao que o amor dá a mim,
Cumplicidade e felicidade
E essa é a nossa verdade
E somos felizes assim
Esperando
Cultivando
Namorando
Adorando o amor
E o que ele nos dará, enfim.

AMAR – Ana Barreto

Amar é perder a razão
É desatinar, percorrer a emoção
Amar é querer possuir
Sonhar, clamar, existir.

Amar é desejar
Ser e saber
O que de tão grande
Nem se consegue ter.

Amar é não ter mais noção
É sentir-se paixão
Incendiada, sem nexo, desarvorada.

Amar é um quê de loucura
Que de tanta doçura
Só nos faz mais querer...

AME - Ana Barreto

Ame, mas ame com tal intensidade
Que o teu coração se machuque de saudade
Por cada segundo que não podemos nos ter...

Ame, mas ame com alegria
Louvando a Deus a magia
Que te encanta por teu bem querer...

Ame, mas ame contemplando o firmamento
Refletindo sempre e em cada momento
O que a vida te deu a saber...

Que és feliz com tanta plenitude
Que te vês envolvido nas virtudes
Que só o amor pode te oferecer...


TANTO AMOR – Ana Barreto

Amor palavra pequena
Que doma todo o meu ser
Amor meu por mim
Amor meu por você
Amor em cada gesto
Amor no riso cantante
Amor no jeito de olhar
Amor no gemido de amante
Amor no toque da pele
Amor por uma estação
Amor de uma vida inteira
Amor em meu coração...


AOS POUCOS – Ana Barreto

Para ti revelo-me aos poucos.
A cada dia uma fenda
Um pouco da pele
No decote que a revele.

Para ti revelo-me aos poucos.
Te dou o meu gemido
A minha voz, hora sussurro
Outra hora o grito.

Para ti revelo-me aos poucos.
Os olhos, o olhar
Meu jeito de te enxergar
Tua leitura, meus desejos loucos.

Para ti revelo-me aos poucos
Deitada, lasciva
Minha alma exposta a te esperar
Entregue em carne viva...



APENAS – Ana Barreto


Apenas porque sou tua
Me pões nua
Despida de vaidade
Exalando minha verdade
A que jurei não mais dizer.
Apenas porque me dei
Até onde eu nem sei
Te apossaste de mim
Deixando-me assim
Deliciosamente cega
Realizada nessa entrega.
Apenas porque te busquei
E emoções te entreguei
Tu encontras razão
Para domar meu coração
E fazer-se proprietário.
Apenas porque me envolvi
E meus desejos refleti
Tu docemente me tomas
E avidamente retomas
Meus caminhos conhecidos
Em teus lábios enternecidos
Querendo-me como tua, nua
Assim, como me sonhou.

ASSIM SE DEU – Ana Barreto

Foi o teu medo que ergueu uma muralha
Foi o teu corpo que travou uma batalha
Contra a força do que em te despertei

Foi tua precaução, teu cuidado
O teu zelo imenso e desvelado
Que te fez renegar o que te dei

Foi a tua dor outrora sentida
Foi a saudade que deixou ferida
E te impediu de saber o que eu sei

Foi a tua prudência conspurcada
Foi a tua covardia descarada
A culpada do amor que não se fez...

BENDITA ROTINA – Ana Barreto

Eu quero a rotina
De a cada dia que nasce
Limpo, resplandecente
Remexer-me na cama e “sem querer”
Esbarrar na delicia do teu corpo quente.

Eu quero a rotina
Do café com bobagem
Quero o teu olhar, miragem
Quero aquele teu abraço que ampara
Quando a loucura do dia nos separa.

Eu quero a rotina
De um dia de suspiros e saudade
Quero a expectativa, a impaciência
Quero o trabalho envolvente
O relógio girando enquanto delícias vou tramando.

Eu quero a rotina
Da escolha do vinho, de fazer teu jantar com carinho
Quero o banho demorado, roupa insinuante
Quero o telefonema: - “Amor, eu chego já!”
Quero a ansiedade de te esperar.

Eu quero a rotina do teu corpo suado, cansado
Do beijo demorado quando chegas
Quero num sorriso teu desejo revelando
Quero no teu banho o teu dia me narrando
Após o jantar, a cabeça no teu ombro descansando.

Eu quero a rotina
Da tua boca em minha pele passeando
Quero coração e pulso acelerados
Quero o teu prazer no meu se completando
E nossos corpos em um só emaranhados.
CALADO – Ana Barreto

De verdades em verdades
As nossas palavras são ditas
E reforçam a sua vontade
Nas coisas em que acreditas
São nossas verdades faladas
Muitas vezes sem palavras
Apenas nos gestos lindos
De almas enamoradas...
Não preciso que verbalizes
Embora me faça feliz ouvir
Pois percebo você intensamente
No que me dás a sorrir
Dispenso o verbo
Se assim preferes
Mas não dispenso seus gestos
E tudo mais que te revele.
CATARSE – Ana Barreto

Meu amor
É pelo teu corpo
Que eu quero divagar
No mar do teu desejo navegar
Na vontade da tua boca mergulhar...
Dá-me
O direito dessa loucura
Tomar-te como a única cura
E libertar-me enfim dessa clausura...
Que é
Amar-te por ser tão carente
Desejar-te para ser semente
Possuir-te por ser sonhadora...

EM CONFLITO – Ana Barreto



Aparta-te de mim coração
Pois insano ficas a te comportar
E sem cuidar da razão
Desaprendeste a como amar

Aparta-te pois causaste dor
Em algum desavisado coração
E por mais que ames com ardor
Te esqueceste de cada lição

Aquelas que te ensinei
Antes mesmo que você fosse criado
Para amar apenas a um outro
Que por ti esteja enamorado

Mas não me ouves, nem atendes
E sem querer causaste dor
Pois ainda não compreendes
As tantas razões do amor

E agora em mim batalham
O coração insano e a fria razão
Esse implorando que sim...
Aquele gritando que não...
DE QUE É FEITO O AMOR? – Ana Barreto

Meu amor é feito de saudade
Do gozo demorado
Do querer desesperado
Dessa vontade sem fim.
Meu amor é feito de entrega
De desejo de estar perto
Do oásis no deserto
Dessa eterna rendição.
Meu amor é feito de encontro
Do prazer de ficar junto
Da conversa sem assunto
Dessa perfeição de te tocar.
Meu amor é feito de aceitação
Do que não posso mudar
Dos acordos para enganar
O desejo, a saudade, a paixão.
DE REPENTE, O AMOR – Ana Barreto

Quando o amor se vai
Achamos que é pra sempre
Da mesma forma que achamos
Ser pra sempre
Quando o encontramos.
E cremos ser capazes
De fechar o coração
E não se permitir à paixão.
E eis que de repente
Quando nem pensamos
Ele se veste de nova roupagem
E nos descobrimos renovados
Prontos, novamente apaixonados
E somos felizes então
Pois a vida nos dá maturidade
Para entendemos a felicidade
Como uma colcha de retalhos
Como um caminho de atalhos
Como um desejo acalentado
Um arrebol de emoções
Para sempre alimentado
Em nossos loucos corações.
DEIXE-ME – Ana Barreto

Deixe-me encontrar-te fora de mim
Pois que em mim já moras
E a minha alma sorri com ardor
Ela que antes era órfã do amor.
Deixe-me ter-te pois em ti descortinei
Uma outra realidade
Um misto de desejo e saudade
De coisas que ainda não vivi.
Deixe-me fazer-te falta
Gravando em tua retina
A imagem do meu ensejo
A fome imensa do teu beijo.
Deixe-me tornar-me essencial
Teu riso, tua luz, teu carnaval
A festa dos teus sentidos
Meus ouvidos, teus gemidos.
Deixa-me ser assim
Como nunca ousei imaginar
Aquela que esquece a dor
E se serve a ti, louca por teu amor.

DESCAMINHOS – Ana Barreto

Sigo com a língua sedenta
Os veios do teu corpo nu
Encontro nele o meu ninho
E me desfaço em carinho
Encantada por te ter.

E tuas mãos me buscam
E encontram a nascente molhada
A relva escura em solo branco
E exploras meu encanto
E para ti me ofereço.

E em ti sinto o poder
Tateando a maciez
E com ardor e vontade
Me invades com saudade
E nós dois ficamos um.
DESPEDIDA – Ana Barreto


Foi-se a dor
A solidão
Só você ficou
Me inebriou
Me tocou a emoção
Foi-se a saudade
A desesperança
Só você ficou
Me inundou
Fez de mim uma criança
Foi-se o medo
O desatino
Só você ficou
Organizou
As linhas do meu destino
Foi-se a tristeza
O tormento
Só você ficou
Se eternizou
Dominou meu sentimento.
DEVANEIO – Ana Barreto

Quando te encontrar assim será
Alegria e emoção se misturando
E absorta os teus olhos fitando
Verei neles o que está me arrebatando
Tu tomarás minhas mãos e vacilante
Trarás meu corpo de encontro ao teu
Num terno abraço
E as batidas dos corações se fundirão
Atados que foram por invisíveis laços.
E saberás então o que me toma
Da emoção que em mim não foi calada
E olhando-me a boca saberás tudo
Pois delatora ela se abrirá
Te aceitando num convite mudo.
E colarás no meu o teu beijo
E eu, tonta de desejo
Em ti me apoiarei
E me dirás palavras
Que ao acordar do sonho
Não mais escutarei.

DIÁLOGO – Ana Barreto

Arde em mim
A chama do teu querer
Essa vontade de te ter
O teu desejo aguçado
O teu toque depravado
Tua viagem interior
Me tomando como for
Teu poder de sedução
Descompasso, coração
Em minha pele, arrepio
Acolhimento do cio
Minha fome alucinada
A resposta desvairada
Que meu corpo te dá
Se me ponho a imaginar
Você dentro de mim.
DOCE PRISÃO – Ana Barreto

Sinto-me livre
Nessa clausura de amor
Meu ninho nos teus braços
Meu lugar nos teus abraços
Pernas entrelaçadas
Corpos confusos
Sem saber
Quem sou eu, quem é você
Tua invasão ardente
Semente quente
Pondo-me servil
Delicias de mulher no cio
Coisas loucas
Gemidos
Vozes roucas
Nessa entrega sem fim
Você, amor
Inteiro
Guardado dentro de mim.
ENFIM – Ana Barreto


Foi assim
Sem esperar enfim
Você veio habitar em mim
Perfume de jasmim
Desejo sem fim
A florir, carmim
Foi paixão
Expressa emoção
A tua mão
No vão
Minha perdição.
Foi loucura
Tortura
Misto de ternura
Deliciosa clausura
Ausência de censura.
Foi encanto
Teu acalanto
O corpo, um manto
Cobrindo o recanto
Do meu corpo santo.
Foi prazer
Saber
Querer
Em ti me perder.
Foi magia, alegria
Ser, ter
Fazer
Amor com você...
ENTENDIMENTO – Ana Barreto

Na mansuetude do teu corpo
Encontrei acolhimento dos meus ardores
Calaste em ti o que em mim proclamo
E me deste saciedade de tantas coisas que amo
O teu peito é o porto onde desejo ancorar
Meus desejos, meus anseios
Minha vontade que é tua
Minha infinda fome de amar
Tua boca é o meu alimento
Maciez, vontade, tormento
Nesse duelo lascivo e santo
Da tua língua me invadindo cada canto
E em teus braços encontro meu abrigo
Quando me unes a ti num reflexo
E os teus gestos loucos me explicam
As nossas tantas coisas sem nexo
E quando me olhas calado, meu amor
E leio em ti o meu corpo que te clama
Me entrego sem receios ao ardor
Que nos faz dois insanos nessa cama.

ESSA ESPERA – Ana Barreto


Foi a surpresa que me fez vacilar
E pedir calma
Foi o meu medo que me fez
Não mostrar-te a minha alma

Foi a distancia o desencanto
Do amor que se faria
Tristes, ermos, nós ficamos
Nessa solta e louca melodia

Nossas corpos se quiseram
E não puderam se ter
Nos rendemos às evidências
Do que iria acontecer

E aqui estou como sempre
Nessa incansável espera
De alguém que venha e transforme
Esse ardor em mais que uma quimera

Se porventura conseguires
Devolver-me os sonhos que acalanto
Serei tua e serás meu
Envoltos nós, nesse encanto...
EU – ANA BARRETO


Ainda que a saudade
Beije a minha boca
Ardente de vontade
Buscarei a ti
A cada dia que nasça
Rasgando a noite em claridade
Rompendo os ciclos da dor...
Estou em cada espaço
Tomada do meu amor
Como ninguém jamais ousou...
Ainda que a razão
Me mostre a realidade
Serei sempre emoção
Renegarei a verdade
Imprimirei no vazio
O gosto amargo da saudade...
FALANDO DE AMOR – Ana Barreto


Deixa-me falar-te
Do que me preenche
Esse amor que dispensou semente
E floresceu árvore frondosa
Deixa-me gritar ao mundo
Em cada canto e recanto
Desse forte e poderoso encanto
Que a mim engrandece e realiza
Deixa-me nutrir nossa raiz
De versos doces e felizes
Para que percebam nas matizes
O quanto somos abençoados
Deixa-me por fim agradecer
Ao que me encanta e me transforma
Deixa-me calar, pois não conheço outra forma,
Os meus desejos em tua boca morna...
FEITIÇO – Ana Barreto

Magia, encantamento
Doce tormento
Essa vontade de ti
Essa saudade sem medida
Tomando conta de mim
Temperando minha vida.
Desejo insano
Do teu corpo
Meu seio o alimento
Minhas pernas o abraço
Minhas coxas o ninho
Necessidade do carinho.
Corpos colados
Suados, abraçados
Nessa hora louca
Fome da tua boca
A viajar por mim...
FELICIDADE – Ana Barreto

A felicidade tem a cor das quatro estações
Dos sonhos e alegrias
Dos arabescos e quimeras
Das nossas fantasias...
A felicidade tem gosto de sorriso dado de graça
Tem o desenho das cambalhotas belas
De saltimbancos loucos
Tem o colorido de mil primaveras...
A felicidade tem jeitinho de molecagem
De jogo de bola de gude
Tem cheiro de fruta colhida no pé
Tem sabor de primeiro beijo
E a alquimia de mil desejos...
A felicidade tem o perfil que queremos
Mesmo do que não podemos
Embora possamos sonhar...
FOI SEGREDO – Ana Barreto

A solidão não mais me apavora
Ou o medo me impede de cantar
E gritar nas asas do vento
A minha alegria em te amar
O vento não guarda segredos
E começa a circular
Sussurrando entre tantos ouvidos
A minha alegria em te amar
O mar também o escuta
E se agita em profusão
Revelando em cada corpo a molhar
A minha alegria em te amar
E a lua na noite em que veio
E derramou sua luz sobre o mar
Ouviu dele o segredo
Da minha alegria em te amar
E a lua contou às estrelas
E as estrelas em total confusão
Chamaram a atenção de Deus
Que veio saber a razão
E as estrelas lhe contaram
E Deus ouviu atento
E ordenou que as estrelas
Acedessem o firmamento
E tudo ficou claro
Nada mais pude ocultar
O mundo inteiro sentiu
A minha alegria em te amar.
IMAGINAÇÃO – Ana Barreto


Sonho-te a cada instante
Que o relógio não conta...
Imagino-te a cor dos olhos
A tessitura da pele
O perfume...
Ouço o som da tua voz
A falar-me ao ouvido
Palavras loucas
Gemidos sentidos...
Desejo-te em meus devaneios
A acariciar-me voraz
E nesse êxtase audaz
Nós dois em pleno prazer
Ânsia de te ter
Ânsia de ter
O que nunca foi meu...
ÍMPETO – Ana Barreto

Quando te encontrei
Vi-me arrebatada
Pelo teu encantamento
Pelo teu corpo
Meu tormento
Pela minha vontade de ti.
Vi-me deliciada
Feliz, extasiada
Vi-me cativa
Do teu abraço
E teu perfume
De tudo aquilo que nos une
Respeito, gratidão
Desejo, devoção
Amor em essência
Carência
De te fazer feliz!


IMPUBLICÁVEL – Ana Barreto

Meu corpo se parte e reparte o encanto
De te ter invadindo cada canto
Teus veios de seivas me doando
E eu, em louco viço, me entregando

Sentindo teu copo arrebatado de prazer
Eu, vadia, aos requebros de te ter
Tua carne rija penetrando
O que afoito tu vais arrebatando

Cada gota de suor e de mel
Cada gemido rouco e solto pelo céu
Como pássaro livre da prisão
Voando tonto e trôpego de paixão

E do teu corpo teu prazer eu recebi
E com vontade de eternidade te acolhi
E o teu grito eu ouvi extasiada
E no teu peito descansei apaziguada

Nossos cheiros misturados pelo chão
Nossos gemidos em gostosa rendição
Os nossos dedos enlaçados numa mão
E nossas vidas em perfeita comunhão...

MAIS QUE ONTEM – Ana Barreto

Hoje, mais que ontem
Eu preciso do teu beijo
Do calor do teu abraço
Da tua mão num doce afago
Do teu colo que me abriga
Da tua boca que prova
Do teu olhar que me aprova
Do teu sorriso que me inspira.

Hoje, mais que ontem
Eu preciso do coração disparado
Da respiração acelerada
Da pulsação descontrolada
Do arrepio em minha pele
De calor, de comunhão
Do sonho a luz do dia
Dos sentidos em profusão.

Hoje, mais que ontem
Eu preciso de você
Da tua voz me ensinando
Da tua mão me apoiando
Do teu desejo revelando
O que de melhor eu sei
Amar você e te fazer feliz
Ter como lei.