6 de outubro de 2009


AMIGO
Ana Barreto

A vida sempre nos oferece
Em horas tantas em que precisamos
Irmãos tão doces, que não buscamos
Mas pedimos a Deus, em nossa prece

Quando a dor, o coração fenece,
Surge alguém com quem compartilhamos
As flores e os espinhos que plantamos
E a nossa tristeza, de alegria esmorece

São presentes que vem sem laço de fita
E se de solidão, a nossa alma grita,
Ali estão, para nos dar abrigo.

E a cada hora em que se brinca ou medita
Nos trazem sempre a alegria bendita
De poder dizer... Tenho um amigo!

ACORDO MUDO
Ana Barreto

Digo-lhe, amor, não sou mais a mesma mulher
Prantearam-se, vazios, os meus momentos
Transmutaram-se, exaustos, meus sentimentos
Aprendi da vida, de frente, assim como ela é...

Agora, sorverei tudo quanto ela me der
Me embriagarei de meus loucos pensamentos
Rirei de escárnio, dos meus toscos tormentos
Serei assim, enquanto assim eu me quiser

E quando me curar da minha embriaguês
Assim que me voltar a velha lucidez
Rirei meus risos, farei amor com a sorte

Então, no que me reste da vida, em prazer
Serei intensa em tudo que me acontecer
Até o dia em que me abrace a morte...


A HORA DO ADEUS
Ana Barreto


Ensaiei o meu adeus por vezes tantas
Tentando partir o último elo resistente
Tentando matar do amor essa semente
E te acenar nos lenços, em ondas brancas

Nem sei meu amor, porque te espantas
Ao ler minha palavra assim, tão contundente
Amargos frutos de meu coração carente
São os vestígios de lembranças tantas


É chegada, então, a hora da partida
Sem desespero, abraço ou despedida
Ouve as verdades que a ti deponho

Pois antes que qualquer dor seja sentida
Esconderei a minha lágrima contida
E fugirei pra morar dentro do teu sonho...